O ESTADO DE SÃO PAULO. A universidade na era da tecnologia. O Estado de São Paulo. São Paulo, 6 jul. 1961.

A Universidade na era da tecnologia

O professor Anísio Teixeira, presidente da Comissão para o Planejamento do Ensino Superior do Ministério da Educação, pronunciou ontem à noite, no salão de conferências no Palácio das Indústrias no Parque Ibirapuera, onde se realiza o II Congresso Odontológico Paulista, uma conferência subordinada ao tema "Universidade e Tecnologia".

Apresentado pelo presidente do certame, prof. Paulino Guimarães Junior, o prof. Anísio Teixeira disse inicialmente que se considerava feliz por encontrar-se entre os odontólogos paulistas, pois este núcleo de profissionais e de cientistas é um dos poucos do País que se compara aos dos mais adiantados do mundo. O dos médicos é outro núcleo de igual intensidade cultural - considerou.

Traçou, a seguir, em palavra que durou cerca de hora e meia, o quadro do desenvolvimento e aperfeiçoamento da Universidade, a partir das primeiras que se fundaram no século XIV.

A instituição adquiriu logo personalidade e independência. Era um desafio às outras duas então existentes: o Estado e a Igreja. Por isso, lutou para manter a sua autonomia e venceu. Na Idade Média, a Universidade era cosmopolita: todos falavam a mesma língua, os ideais eram os mesmos em Bologna e em Paris, em Palermo e em Oxford.

Analisou, depois, a influência sofrida na Renascença: a Universidade se desliga do espírito universalista, nacionaliza-se, torna-se pouco a pouco mais conservadora, e mais e mais se afastou da pesquisa.

O prof. Anísio Teixeira descreve o processo de paralisia que a Universidade sofreu em determinado período, e especialmente na Inglaterra, e a irrupção do pensamento científico que, fora da Universidade, penetra na instituição, na França.

É no século XVIII - prosseguiu - que começa a renovação do espírito universitário francês, que passa para a Alemanha, mercê da "Wissenchaft", enquanto a Inglaterra, até 1850 ainda fecha as suas casas de ensino à ciência e à tecnologia. No fim do século passado, porém, a tecnologia inglesa, que era obra de operários e dos mestres, unindo-se ao espírito universitário, promove a grande revolução. E, desde os fins do século XIX a esta parte, com o advento da Universidade norte-americana, que é uma síntese, a tecnologia e a ciência começam a integrar a Universidade e conquistá-la. Na linguagem da ciência, no liberalismo da pesquisa e do espírito científico, vai-se formando a nova Universidade do saber do novo humanismo.

Em nosso século, as portentosas conquistas da tecnologia dão-lhe um prestígio que a tornam legítima parte do espírito universitário. Reconstrói-se, finalmente, o sentido que as Universidades medievais tinham de sua função.

| Artigos de Jornais ou Revistas | Entrevistas |