TRIBUNA DA IMPRENSA. Anísio: educação em 50 minutos. Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro, 19 jun. 1958.

Anísio: educação em 50 minutos

Dizendo que o proletariado intelectual no Brasil é frustrado, obrigando o govêrno a aumento de nomeações para êsse tipo que não sabe o que fazer quando sai das escolas, Anísio Teixeira falou, durante 50 minutos, ontem, no Ministério da Educação.

O tema da conferência foi "Panorama da educação nacional", encerrando o curso de "Relações Humanas".

Anísio disse que o povo é altamente político e naturalmente explosivo, por defeito da educação secundária e superior. - A educação superior tem que ser nìtidamente profissional e ter mercado de trabalho para não criar os revoltados: o intelectual de cólera".

QUADRO E DIAGNÓSTICO

Anísio explicou de início que ia fazer o quadro e diagnóstico da situação brasileira.

Lembrou que grande parcela do povo era escravo até 70 anos passados.

A educação era feita em escolas primárias ou vocacionais ou primárias e ginásios para a elite. O Estado exercia o contrôle, mas não expandia a educação. Até 1930 havia um ginásio estadual: em São Paulo, que tinha escolas primárias, profissionais e normais para o povo.

O restante da educação secundária era de instituições privadas.

Foi a abolição da escravatura que tornou importante o ensino superior, quando os filhos das classes patriarcais começaram a buscar as fórmulas dos dominantes. - "Jacques Lambert disse que êsse tipo era equivalente ao "gentleman" inglês: o doutor".

Depois de 30, a classe média se expande no Sul e há a abolição quase completa do conceito aristocrático de educação para pequeno grupo.

A procura no ginásio aumentou, então, em décuplo.

A seleção está sendo feita de maneira drástica às escolas superiores: "De 400 passou a 10 lugares no vestibular de Medicina".

O número de reprovados da escola primária aumentou: "Ficou seletiva, cobrando nível acadêmico de crianças".

Foi preciso criar dois, três, quatro turnos até com hora meia de aula), como em São Paulo, nas escolas primárias.

A média dos que passam do ensino médio privilegiado ao superior é de 40 por cento. Estudam em escolas privadas 60 por cento.

Em São Paulo 50 por cento do ensino secundário é privado. O restante é público. No Rio: 20 público e 80 por cento privado.

LIBERDADE DO ENSINO

- "O ensino privado que era até certo tempo bem pago, deixou de o ser. Com o aumento das anuidades a clientela entrou em discussão.

- "A classe média vendo que não podia manter seus filhos em escolas privadas levou o Estado a lhes pagar a educação dos filhos".

Explicou Anísio que os pais, em geral, não gostam de misturar os seus filhos com as crianças de escolas públicas.

- "É preciso uma mudança de educação de qualidade". Mais ainda: "Criar uma escola com padrões altos e assimilar atos, costumes e ideais da classe média".

- "O Brasil caminha para se unificar socialmente, com fluidez entre as classes, atendendo a diferenças de ocupações, como sucedeu na América do Norte".

Acentuou as diferenças entre a nossa classe média e do Sul. Disse que entre nós, para cada um que entra na Universidade, 99 estão fora.

- "Para cada criança que se educa no Brasil, a percentagem dos que concorrem para isso é 1,20%, enquanto na França é de 4,32%".

Afirmou que a nossa escola secundária deve ser modificada para levar à formação de técnicos. "10% podem ter qualidades acadêmicas e ser produtivos na educação superior".

- "Um milhão de brasileiros são educados em nível secundário".

Anísio concluiu - "a educação superior deve se transformar para o profissionalismo, preparando para o mercado de trabalho".

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