TEIXEIRA, Anísio. Educação e desenvolvimento. Diário da Manhã. São Luiz, 25 fev. 1962.

Educação e Desenvolvimento

Anísio Teixeira

Isto posto e considerando que não levamos em conta o regime de colonização, vemos que há quatro métodos paralelos de conduzir o processo de industrialização: o da elite dinástica, o da classe média, o dos revolucionários intelectuais e o dos líderes nacionalistas. As perguntas cujas respostas caracterizam tais métodos são as seguintes:

1) - Quem conduz a marcha?

2)- Qual o propósito da marcha?

3) - Como se organiza a marcha?

- QUEM CONDUZ A MARCHA? -

a) - a elite dinástica responde:

Os que nasceram para mandar e se identificam pela família e pela classe; o govêrno é pessoal, fundada na tradição e sustentado pela fôrça, se necessário.

b) - a classe média responde:

Os que por competitiva educação e competitiva experiência melhor merecem a responsabilidade da liderança; essa liderança funda-se no consentimento e se processa segundo certas regras gerais aprovadas do jôgo.

c) - Os revolucionários intelectuais respondem:

Os que possuírem uma teoria superior da história e uma estratégia superior para organizar a sociedade de acôrdo com as exigências da tecnologia industrial; a sua liderança apóia-se na fôrça.

d) - os líderes nacionalistas respondem:

Os que pela sua "visão" e "coragem" encarnam o futuro da nação; o seu poder se funda no senso de patriotismo que logram despertar nos cidadãos da nação.

- COMENTÁRIOS -

Não é tão fácil definir-se no campo das idéias, nem tão pouco afirmar-se soluções incontestáveis. Cada povo tem um traço comum, condições próprias, peculiaridades intrínsecas, que não se sujeitam a qualquer doutrina política transportada de outros lugares de diferenças muito profundas.

O processo de industrialização é uma determinante infalível no progresso de uma nação. E assunto que não comporte degiversações por parte dos govêrnos, mas cria dificuldades imensas para governantes e governados. A educação é um problema dentro dêste processo cuja solução deve ser idealizada com um sentido permanente, estável, duradouro, criando raízes profundas no seio da sociedade para que não fuja aos princípios tradicionais de elevação da criatura humana.

A chamada revolução tecnológica encontra no campo educacional as suas diretrizes mais sólidas de sobrevivência. Educar é criar condições de trabalho, é aperfeiçoar, e não o desespero de uma revolução ou agonia rápida de país frente a mudanças temerárias que poderão levá-lo definitivamente ao caos.

É preferível uma marcha mais lenta, sem o uso da fôrça ou da violência, para que se chegue a um fim. O Brasil começa a sua chamada civilização industrial no sul e deve ter um programa diferente para a escola para que a sociedade não se sujeite à transformação imediata, venha, porém, aos poucos se adaptando àquela unificação política que têm sido de maior proveito para todos.

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