CRAVO JÚNIOR, Mário. Falta de educação. A Tarde. Salvador, 24 fev. 2000. p.3.

Falta de educação

Mário Cravo Júnior

   Se o escultor Mário Cravo Júnior, por um lado não está dando muita bola à polêmica em torno da escultura adquirida pela prefeitura carioca, o mesmo não acontece em relação aos estados dos murais feitos por ele, Carybé, Jenner Augusto e Maria Célia Calmon, no início dos anos 50, na Escola Parque, situada no bairro da Caixa D'Água. "É uma vergonha, uma falta de consideração. Um desrespeito à figura do grande educador Anísio Teixeira, no ano do seu centenário, e à arte e à educação, de um modo geral, na Bahia", explode.
   Cravo Júnior fora convidado para escrever um texto sobre Anísio Teixeira, o educador que revolucionou os conceitos de escola em seu tempo e que construiu o exemplar complexo das escolas Parque, em Salvador. "Resolvi visitar a Escola Parque na qual havíamos feitos os grandes murais e fiquei triste e decepcionado com o que vi", desabafa o escultor. "É claro que não vou escrever nada do que pediram. Como é que querem homenagear Anísio Teixeira, agora, se não há nenhum respeito pelo seu rico trabalho no passado?", questiona.

Escola Parque

   A indignação do escultor proced. O estado dos grandes murais é deplorável, principalmente os assinados por ele e Carybé, cada um com dimensão de 22x12m. "As pessoas deviam saber, ou ao menos lembrar, que foi Anísio teixeira o maior responsável pela vinda do argentino Caribé para a Bahia, onde ele se tornou mais baiano do que eu", dispara.
   Em 1953, ao construir o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, criando o conceito de Escola Parque (instituição que oferecia educação integral gratuita a um grande número de alunos, com imensa área construída, incentivo à arte, aos esportes e envolvimento da família), o professor Anísio Teixeira convidou jovens e promissores artistas para executarem obras grandiosas nas paredes dos amplos galpões construídos para abrigar as atividades educativas.
   Cravo Júnior ficou responsável por representar a simbologia do homem moderno e sua relação com as máquinas e a ciência; Carybé teve como tema a energia; Jenner Augusto foi responsável por dois painéis, no hall de entrada, com 23x3m, cada, mostrando a saga da evolução humana; enquanto Maria Célia Calmon retratou a transformação da matéria em uma área de 10x6m.
   "É uma pena que as novas gerações estejam totalmente desinformadas deste passado da cidade, sofrendo com a opressão do crescimento demográfico, que mudou totalmente as feições de Salvador", lamenta o artista. Ele espera que algo realmente seja feito e cobra a ação das autoridades. "Sou do tempo em que Salvador tinha 450 mil habitantes, em uma paisagem do século XVIII, não havia prédios com feição moderna. Hoje, estamos no ano 2000, tantos avanços, crescimentos, e não é possível que coisas como estas estejam acontencendo", queixa-se (Luís Lasserre).

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