JORNAL DO BRASIL. Correspondência. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 1 dez. 1957.

 

Correspondência

Voltado para o debate franco das idéias, para o incentivo da crítica e da criação, êste suplemento tem aberto suas páginas a todos os que, demonstrando esfôrço honesto, procuram tirar a arte e a literatura brasileira dessa espécie de repouso remunerado em que adormecem mal a gente se descuida. Mas faltava estender essa oportunidade àqueles que são apenas leitores, e que na nossa modesta condição, encarnam a justificativa principal de todo o nosso trabalho. O leitor muita vez concorda e muita vez discorda, muita vez admite e muita vez se escandaliza com o que escrevem poetas e prosadores, com o que afirmar artistas e críticos. Não tendo a pretensão de escrever um artigo para expressar o seu ponto de vista, quase sempre lança mão da carta ou mesmo do telegrama e do telefone. Esta seção, que hoje se inaugura, pretende registrar, divulgar e, na medida do possível, responder, senão aos telefonemas, pelo menos às cartas e telegramas que semanalmente chegam à nossa redação. Aqui também daremos resposta àqueles que nos enviam colaboração não solicitada, sôbre as quais opinaremos e, sendo o caso, publicaremos noutro local. Tampouco vacilaremos em divulgar os elogios que praza aos céus, essas cartas nos tragam.

 

CÔNEGO T. DA FONSECA E SILVA - Com algum atraso divulgamos agora o esclarecimento do Deputado (e Cônego) Trindade da Fonseca e Silva a alusões feitas a seu nome em nota bibliográfica aparecida neste Suplemento a 6.10.57, assinada por Jorge Moreira Nunes, que não é "o comentarista dêsse jornal" mas um dos inúmeros colaboradores da sessão "Bibliografia" do SDJB. Comentando o livro "Educação não é privilégio", do prof. Anísio Teixeira, o Sr. Moreira Nunes focaliza o que lhe parece um equívoco que se criou em tôrno da obra educacional do Prof. Anísio Teixeira e critica o pronunciamento do Deputado Fonseca e Silva, que na sua qualidade de legislador, afirmara ser aquêle educador (atual diretor do INEP), "um autêntico intelectual marxista". Em sua longa carta (6 laudas em espaço 1), o Deputado reafirma o que disse a respeito do Prof. Anísio Teixeira, adiantando que se trata de "um consenso unânime, de todo o território nacional" e advertindo que o comentarista "veio mexer ou bulir no assunto que o próprio atual diretor do INEP não gostaria fôsse reeditado". E acrescenta com maior ênfase: "é bom parar". Seguem-se os argumentos do nosso missivista em favor de sua tese ("o Prof. Anísio Teixeira é um intelectual marxista") que são: artigos do Sr. Tristão de Athayde (in "Debates Pedagógicos" e "Humanismo Pedagógico"); do Padre Leonel Franca (in "Polêmicas") e do Prof. Everardo Backeusen na "Revista Brasileira de Pedagogia"; artigos de fundo "Diário de Notícias", de Ribeirão Preto (S. Paulo) dos dias 19-9-56, 21-9-56 e 22-9-56. Diz ainda o Deputado Fonseca e Silva: "Para o ilustre comentarista, discordar da Pedagogia deweyana do Sr. Anísio Teixeira é cometer "uma estupidez". De saída, só essa sua "lógica" afastaria da rota dos debates todos os interessados na matéria. E posso acreditar que o emprêgo dêsse "xingatório" jamais coadunaria com a natureza do assunto, cuja essência é matéria eminentemente educacional; nem com a linha de serenidade, que sempre presidiu os destinos do conceituado "Jornal do Brasil"; nem mesmo até com a própria vítima das invectivas do comentarista, vítima que é um sacerdote sertanejo, temporàriamente Deputado Federal em duas legislaturas e que leciona desde 1923". Passa o cônego Fonseca e Silva à apreciação do problema da educação tal como lhe parece ser preconizado pelo Prof. Anísio Teixeira e que qualifica de "dirigismo pedagógico, amparado por polpudas verbas, a serviço indireto dêsse perigo apontado". ("pedagogismo materialista, pragmatismo marxista e sociologismo biológico"). Lamenta ainda que a oposição política ao atual govêrno "só veja o perigo da infiltração comunista, no meio das fôrças armadas, onde a rigidez da disciplina regimental se sobrepõe a qualquer manifestação ideológica, sobremodo, as antidemocráticas". Acredita o Cônego e Deputado que "A essa altura só nos resta um caminho: apelar, como Deputado e como sacerdote, para a atenção do honrado Sr. Presidente da República; para o ilustre republicano que superintende os negócios educacionais no Brasil; para o não menos ilustre homem público, Sr. General Ministro da Guerra". Conclui o missivista afirmando que a criação do "ambiente propício para a ditadura mundial do proletariado" não está mais na "fôrça militar do estalinismo para marcha da conquista", "está no preparo escolar da mocidade".

Não pudemos atender ao desejo do autor de publicar sua carta, na íntegra, e na seção "Bibliografia", por um lado dada a natureza daquela seção e por outro devido à extensão da carta. Nossas desculpas.

 

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