O ESTADO DE SÃO PAULO. Retoma-se hoje, para balanço de idéias, o Manifesto da Educação. O Estado de São Paulo. São Paulo, 12 dez. 1957.

NO 25º ANO DO LANÇAMENTO

Retoma-se Hoje, Para Balanço de

Ideias, o Manifesto da Educação

Pelo transcurso do 25º ano do lançamento do "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", foram marcadas diversas solenidades nesta Capital, que serão iniciadas hoje, ás 20 horas e meia, no Instituto de Educação Caetano de Campos, com uma conferencia do professor Fernando de Azevedo.

O "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova" é um documento assinado em 1932, por um grupo de eminentes educadores, que, depois de numerosas consultas e reuniões, resolveram manifestar publicamente o seu pensamento sobre os princípios educacionais a serem adotados pelos poderes públicos, situando o problema da educação como o mais importante da nacionalidade e reclamando para ele a primazia dos planos de reconstrução nacional.

As comemorações da assinatura desse documento, cujas repercussões estão aí - o Código de Educação, a Universidade de S. Paulo, o Capítulo da Educação incluído na Constituição de 1934, como assinalou o professor Carlos Corrêa Mascaro, diretor-geral do Departamento de Educação, na entrevista que publicamos abaixo, têm em vista, agora, a retomada do "Manifesto", como objeto de novos estudos.

O que é o "Manifesto"

Em entrevista especial, que nos concedeu ontem o professor Carlos Corrêa Mascaro, diretor-geral do Departamento de Educação, assim se referiu ao "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova":

"No transcurso do 25º aniversário do lançamento do "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", documento da maior importância e significado na História da Educação Brasileira, uniram-se as entidades de classe do magistério, sob o patrocínio do Departamento de Educação para comemorar festivamente a grata efeméride que marca o mais positivo e corajoso esforço realizado, por um grupo de homens patriotas e esclarecidos, no sentido da fixação das bases de uma revolucionária reforma do nosso sistema oficial de ensino, para pô-lo em consonância com as necessidades de uma época de transição e de crise de desenvolvimento do País.

Tenho certeza de que, com as comemorações organizadas vamos assistir á repetição do grande movimento de idéias verificado a partir de 1924 e que culminou no lançamento do "Manifesto" de 1932. E, hoje, o interesse é muito maior, dados o desenvolvimento dos estudos pedagógicos em nível superior entre nós e a preeminência ganha em nossos dias pelos problemas educacionais, projetados, de repente, da calma atmosfera de estudo nos tratados de Pedagogia, para o agitado plano das disputas de hegemonia política no mundo contemporâneo.

O "Manifesto dos Pioneiros" é um documento sem dúvida importante. É possível que muitos o tenham esquecido, que outros o desconheçam em seus exatos termos. Suas origens deitam raízes nas transformações sociais da época, na intranqüilidade política em que vivia o País, mal saído de uma revolução e no idealismo dos que o assinaram, assumindo a responsabilidade de sua divulgação. Seu significado é suficientemente eloqüente para que o neguemos e suas repercussões foram as mais importantes. Destas, só para citar três, relembraremos o Código de Educação, a criação da Universidade de São Paulo e o Capítulo de Educação incluído na Constituição de 1934. O primeiro, obra de Fernando de Azevedo, a segunda, realização de um sonho longamente acalentado por Julio de Mesquita Filho e o terceiro, o resultado da ação de um grupo de líderes educacionais, em que se destacaram os profs. Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo.

A retomada, hoje, do "Manifesto", como objeto de novos estudos, nos revelará, e estou certo de que vai ser esse o melhor resultado das comemorações agora organizadas, em que medida os acontecimentos determinaram a superação dos pontos de vista expostos e defendidos no importante documento, e o que há nele, ainda, de vivo, novo e atuante no domínio do nosso ideário pedagógico.

Quem poderia negar, por exemplo, a clareza lapidar e a exata oportunidade do trecho inicial de seu primeiro parágrafo, assim redigido?: "Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. Pois, se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões á invenção e á iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade".

Não bastasse a crise de crescimento nacional, cujos reflexos todos sofremos, aí está o recente impacto causado na opinião pública mundial pelo progresso soviético no campo científico e técnico e atribuído ás virtudes de um sistema revolucionário de educação que extinguiu o analfabetismo e elevou o nível de vida do povo.

Como ideais longínquos, os relativos á Educação como função essencialmente pública, e á escola única, foram superados, pelo menos em São Paulo, os trechos relacionados com os problemas da laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e co-educação.

O "Manifesto", porém, é um documento rico e denso de conteúdo. Impossível analisá-lo convenientemente num relance, nos limites de uma rápida entrevista. Ele exige estudo, análise minuciosa, demorada e profunda. Isso, naturalmente, é o que iremos encontrar, nos variados e múltiplos pronunciamentos que as comemorações do seu Jubileu de Prata por certo suscitarão, especialmente porque dos 26 educadores que o subscreveram, 20 estão vivos, alguns esposando novas idéias, outros ainda fiéis ao mesmo espírito, e quase todos como combativos lutadores pela reconstrução educacional do Brasil".

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