GOUVEIA NETO, Hermano. Anísio Teixeira, Simões Filho e Otávio Mangabeira. A Tarde. Salvador, 13 jul. 1986

Anísio Teixeira, Simões Filho e Otávio Mangabeira Hermano Gouveia Neto

O dia 12 de julho é a data de nascimento do grande educador brasileiro Anísio Teixeira, nascido nos sertões da Bahia, na tradicional cidade de Caetité, no ano de 1900 há, exatamente, 86 anos. Filho do Dr. Deocleciano Pires Teixeira e de Ana de Sousa Spínola, filha de tradicional família das Lavras Diamantinas.

Desde 1970, pelo meios ao meu alcance, tenho lembrado a passagem do aniversário de nascimento do saudoso Prof. Anísio Spínola Teixeira, sobretudo através das colunas do nosso jornal A TARDE, graças à compreensão do seu diretor-redator-chefe Prof. Jorge Calmon, também indiscutível conhecedor da sua obra, por haver militado durante 40 anos no magistério universitário.

Por causa de A TARDE e do Prof. Jorge Calmon, também me lembrei de dois ilustres e inesquecíveis filhos da Bahia: Ernesto Simões da Silva Freitas Filho e Otávio Cavalcanti Mangabeira, cujos os centenários de Nascimento estamos comemorando este ano. Lembrança feliz, pois Simões Filho e Otávio Mangabeira são dois nomes intimamente ligados à biografia de Anísio Teixeira. Eu diria mesmo, na minha condição de "anisiólogo", que os dois, Simões Filho e Otávio Mangabeira, foram dois grandes brasileiros que contribuíram de modo significativo para a permanência e projeção de Dr. Anísio, no centenário da educação brasileira. Vamos recordar os fatos, para que os educadores mais jovens possam compreender esta nova afirmação.

Tendo sido diretor geral da instrução pública na Bahia, em 1924, no governo do Dr. Góes Calmon, além de mais tarde, também diretor geral de instrução e secretário da Educação no Rio de Janeiro, na gestão do prefeito Pedro Ernesto, no antigo Distrito Federal, o nome de Anísio Teixeira já se projetava nacionalmente, não apenas pelo cargos importantes que ocupara, também pelos livros que começava a publicar, os inúmeros artigos, entrevistas e conferências que pronunciava, defendendo teses consideradas avançadas para o seu tempo. Com a implantação do chamado Estado Novo, passou Anísio Teixeira a ser considerado "homem perigoso", militante da esquerda e conspirador contra o regime dominante. Era um homem de apenas 37 anos, fase propícia para o início da sua brilhante carreira. Todas as circunstâncias faziam prever o fim de sua carreira, porém, o seu talento e sua sólida formação cultural, anos mais tarde, viriam provar o contrário.

A partir de 1946, os ares da democracia viriam a ser respirados pela Nação brasileira e o destino marcaria o seu encontro com Otávio Mangabeira, eleito governador da Bahia, que, com a ajuda de Nestor Duarte (outro baiano ilustre que precisa; ser relembrado) tratou de localizá-lo, para nomeá-lo secretário da Educação e Saúde da Bahia. Foi primeira grande chance, para que Anísio Teixeira voltasse a demonstrar a sua capacidade, o seu talento e sua cultura.

A partir de 1948 é o meu encontro com o Prof. Anísio Teixeira, graças ao então diretor geral do Departamento de Educação, na época, o ilustre Prof. Milton Tavares, que me nomeou mensageiro da Secretaria da Educação. Passei a acompanhar todos os seus passos, o que me permitiria, anos mais tarde, como professor e iniciando carreira de educador, ter condições para julgar a grande administração que realizou no governo de Otávio Mangabeira. Não preciso relembrar muitos fatos, para considerá-lo, ao lado de Isaías Alves, os grandes secretários da Educação na Bahia. O mais importante para mim: a criação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, com a sua famosa, consagrada e internacionalmente conhecida Escola Parque, pioneira na educação popular, ministrada em dois turnos, para crianças pobres. Uma concepção de centro-interescolar ainda hoje não superada no Brasil, por isso mesmo copiada em vários outros estados, ainda hoje - como é o caso dos Centros Integrados de Educação Popular, os CIEPs do Rio de Janeiro.

Após o governo de Otávio Mangabeira, teria Anísio Teixeira a sua outra grande chance, quando convocado pelo então ministro da Educação, Dr. Ernesto Simões Filho. Além de outras funções, a partir de 1952 foi diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), órgão onde realizou a mais profícua administração, com realizações ainda hoje lembradas por todos que estudam a nossa educação. Não houvesse sido convocado pelo Dr. Simões Filho, quem sabe, talvez não lhe fosse oferecida outra oportunidade para voltar à vida pública exercendo cargos na administração . Na direção do INEP, levado por Dr. Simões Filho, realizou uma obra da maior importância, merecendo maior destaque o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, desenvolvendo intensa atividade pedagógica através dos centros regionais de Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Do mesmo modo, a publicação regular da "Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos" e de duas outras:" "Bibliografia Brasileira de Educação" e "Educação e Ciências Sociais".

Nada mais justo do que, no transcurso dos seus 86 anos de nascimento, relembrar Anísio Teixeira ao lado de Simões Filho e Otávio Mangabeira, nomes que também merecem destaque pelo que fizeram em favor da educação. Anísio Teixeira ainda é hoje um dos maiores nomes da educação brasileira, que continua necessitando ser urgentemente repensada, como ele próprio sempre aconselhava, todas as vezes em falávamos em construir, no Brasil, uma sociedade justa, solidária e feliz.

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