FEIJÓ, Maria. Anísio Teixeira, o pioneiro. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro, 17 jun. 1991.

Anísio Teixeira, o Pioneiro

MARIA FEIJÓ

Escritora e Jornalista

 

Aconteceu no de 1950, em setembro, num dos bairros mais pobres de Salvador, a inauguração parcial, do "Centro Carneiro Ribeiro", mais conhecido como "Escola Parque", a obra definidora de uma política educacional - plano gigantesco, ambicioso e jamais realizado. De Anísio Teixeira, retomando obra iniciada a 25 anos, perdida no descrédito que a educação sempre sofreu neste País. Entretanto, a iniciativa causou tanto sucesso, chegando a ser filmada pela Unesco "para mostrar ao mundo o exemplo. "Escola da vida, para vida, de vida, numa dinâmica realizadora e única, preparando a criança para o adolescente já aparelhado nas várias atividades os seus dois setores constituídos: "o da educação e o da instrução", e dela sair um cidadão, devidamente capacitado, desenvolvendo-se-lhe as possíveis tendências, como estudante, trabalhador, esportista, artista...

A "Escola Parque" chegou feito uma reação ao que se via na escola pública, propondo-lhe horário integral, no desejo de que "a escola possa conduzir a criança para a sua civilização tão difícil por ser uma civilização técnico industrial, ainda mais difícil e complexa por estar em mutação permanente. "Queria que a escola desse saúde e alimentação à criança, visto, desnutrida como vivia, não conseguira ser educada. A idéia do "Centro" surgiu-lhe, exatamente, ao ver cuidar-se do problema da infância abandonada. Para ele, excetuando os filhos de famílias abastadas, toda infância era assim porque as crianças não tinham lares para ser educadas, e na escola não o eram, pelas poucas horas que passavam, em simples casas de ensino improvisado e deficiente.

Aquele plano estender-se ia, mais tarde, por todo o Brasil. O governador: Otávio Mangabeira. Progressista, foi descobri-lo, lá na Serra do Navio, sertão da Bahia, como um próspero exportador de manganês, "única atividade" a ele permitida, comentado, depois, por Carlos Lacerda. Quem tanto pregou "Educação não é privilégio", "Educação para a Democracia", "Educação é um direito", aprimorando a "Lei de Diretrizes e Bases", incalculáveis obras no gênero. E o taxaram de "comunista". Uma igreja retrógrada, com um absurdo "Manifesto dos Bispos do Rio Grande do Sul", numa campanha das mais sórdidas existentes, uma certa minoria de imprensa sem conceituação, e políticos incapazes. Cotidianamente, ele se ia surpreendendo "com as armadilhas da política". Retornando à Bahia, aos 23 anos, recém-formado em Direito no Rio de Janeiro, o governador Góes Calmon logo o nomeou para seu Diretor de Instrução Pública. Mais tarde, teve igual cargo na Capital da República. Passara, posteriormente, a receber sucessivos convites da Unesco para cursos e conferências, paralelos ao Japão, China, França, conciliando-os aos cargos desempenhados na própria Unesco. E ainda, como "visiting schol", na Columbia University e Universidade da Califórnia.

Como grande pensador e realizador, valorizava escola pública, levando a se firmar nos seguimentos da sociedade. E se não lhe tivessem cortado as asas, esta geração de hoje estaria noutro plano, vivendo o "slogan" dele preferido: "Um povo educado é um povo feliz". O despertar da consciência no setor-educação, que agora aí se revela no "Projeto Minha Gente", não é outra coisa senão uma herança dele, chegando com 61 anos de atraso. Merece nossos aplausos, mas hão de reconhecer que Anísio Teixeira foi quem lançou a semente, lembrando que a sociedade precisa voltar a dar valor à família democratizada, eliminando as injustiças sociais, senão todos que surgirem, estão fadados ao fracasso. Esse projeto é um vetor da educação integral por ele preconizada. E se lhe quiserem fazer a justiça merecida que seja dada aos centros o nome de: "Centros Integrados Anísio Teixeira", porque ele mostrou a sociedade, a importância de uma família estruturada, numa democracia social, para que a escola pudesse atingir todos os seus propósitos.

Graduado no Teacher's College a Universidade de Columbia, voltou imbuído de vários conhecimentos baseados na filosofia pragmática de John Dewey, tornando "The Public Its Problems", sua bíblia. Carlos Lacerda comentou: "Quando foram banidas do vocabulário político as palavras cultura, progresso e democracia, foi banido também Anísio Teixeira - o Mestre - que, sem ele, os seus Conselheiros se dispersaram no desestímulo, no desengano, nas defenestrações anônimas."

Na Capes, Inep, Conselhos, UniB ou por onde tenha passado, revolucionou a área de educação, contando para isso com a colaboração de educadores como Darcy Ribeiro. Mais de seis décadas se passaram. Mudou a sociedade, mudou o Brasil, mudou o mundo, e a idéia de Anísio Teixeira aí permanece, na esperança, de, ainda ser imitada para a educação tomar rumo por ele, ardentemente desejado. A "Escola Parque"é um monumento ao patrimônio que Anísio Teixeira representa para o Brasil e para o mundo. Homem de vital relevância no seio de qualquer sociedade civilizada como pioneiro de nossa história contemporânea da educação, não possui o pedestal que lhe é devido.

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