A TARDE. Jornalista homenageia educador defendendo controle da natalidade. A Tarde. Salvador, 14, jul 2000.

Jornalista homenageia educador defendendo controle da natalidade

Orador oficial na solenidade pelo centenário de nascimento do educador Anísio Teixeira, na Fundação Luís Educardo Magalhães, o jornalista e acadêmico Jorge Calmon fez um contundente pronunciamento, em que não apenas recordou a Escola Parque - um dos maiores legados do mestre -, mas também levantou a voz contra o que chamou de "paternidade desenfreada". Para ele, a inexistência de uma forte política de planejamento familiar no Brasil coloca a educação muito distante do ideal sonhado por Anísio Teixeira.

Daí, completou, a intensificação da violência, inclusive praticada pelos menores, diante de uma legislação penal obsoleta, carente de uma atualização urgente pelo Congresso Nacional. Calmon disse já não saber o que é mais importante, se vacinar as crianças, para que não contraiam sarampo, paralisia infantil e outras doenças, ou coibir a natalidade, "para que muitas delas não venham ao mundo condenadas a morrer de subnutrição ou, futuramente, pelas balas da polícia".

Estiveram presentes à solenidade o governador César Borges - que presidiu os trabalhos -, senador Antonio Carlos Magalhães, prefeito Antonio Imbassahy, presidente da Assembléia Legislativa, Antonio Honorato, e outras autoridades, além de presidentes de instituições e muitos professores. Discursaram também o secretário da Educação, Eraldo Tinôco, e a Srª Maria Cristina (Babi) Teixeira Monteiro de Barros, que agradeceu em nome da família de Anísio.

Teoria de Malthus

O jornalista Jorge Calmon destacou "uma das peculiaridades de Anísio era sua atração para o novo, para o original, para a materialização de propostas de mudança. Por isso mesmo, detestava a burocracia, assim como tudo o mais que significasse entrave ao rápido desenvolvimento das ações". Sua glória, afirmou "frutifica no Cieps, Ciaps e similares hoje espalhados pelas favelas do Rio de Janeiro, periferia de grandes cidades, municípios do interior", acrescentando que "muitos lugares não parecem estar preparados para a correta manutenção desses centros de ensino".

Voltando à questão das altas taxas de natalidade, Calmon disse que "as leis naturais são implacáveis", citando o economista inglês Thomas Malthus, que já no século XVIII "preconizava que o crescimento das populações tenderia a superar os meios de subsistência, disso devendo decorrer grave crise, a menos que se tomassem medidas preventivas, dentre as quais, como a principal, a restrição voluntária de nascimentos".

Defendendo a necessidade de superar a situação social em que a violência se alastra, praticada em grande parte dos casos por menores que não tiveram assistência familiar nem educação, Jorge Calmon ressalva que isto não se fará "com ingênuos e inócuos protestos (...) nem é suficiente vestir roupa branca para expressar o desejo de paz. Os bandidos devem divertir-se com esse tipo de combate sentimental à sua estratégia calculada e perversa".

Cidadão integral

Para o jornalista, "se desejarmos que o futuro seja diferente, teremos de ser realistas e objetivos". A palavra de ordem, disse, será um basta à paternidade irresponsável, mediante a punição exemplar dos culpados pelo abandono dos filhos. Tarefa para os Juizados de Menores, e para o Ministério Público. Deve ser um basta à parição de futuros marginais".

Feito isso, na opinião de Calmon "será possível formar a nova criança, o novo jovem, o novo aluno, conforme a fórmula recomendada pelo mestre Anísio, ou seja, um educando que receba uma formação em que sejam estimuladas suas aptidões intelectuais, artísticas e físicas, em suma, um cidadão integral para participar de uma sociedade verdadeiramente democrática; uma sociedade governada segundo a vontade do povo, mas em que o povo seja composto de cidadãos conscientes, preparados para decidir os destinos de sua coletividade".

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