SOLBERG, Helena. Anísio é o assunto. O Metropolitano. Rio de Janeiro, 23 out. 1960.

ANÍSIO É O ASSUNTO

Helena Solberg

Anísio Teixeira fêz 60 anos, o que não é pouco para um homem só. A Livraria São José, homenageou-o com um livro <<Anísio Teixeira – pensamento e ação>>. Trata-se do testemunho de diversos escritores sôbre êsse grande homem. Sôbre êle falam: Gilberto Freyre, Afrânio Coutinho, Fernando de Azevedo. A reportagem resolveu surpreendê-lo na tentativa de descobrir um outro lado seu.

Através de seus artigos e livros, da lucidez e frieza de sua objetividade viamos só Anísio, o intelectual, que logo procurava transformar suas idéias em ação. Mas, perde-se assim, às vêzes, as proporções do homem de todo dia e esquecemos que êle deve ter um modo especial de andar, de olhar, de tocar nos objetos e que isso tudo é extremamente importante. Entrevistá-lo sem falar em educação, é uma tarefa difícil. O homem se retrai, protesta, e afirma que não há nada na sua vida além disso. Disfarça e muda de assunto.

– O Senhor sabia que fui encarregada de descobrir o seu lado <<bôlha>>?

Meu lado <<bôlha>>! e o que é isso? pergunta espantado.

Já arrependida procuro ràpidamente a explicação mais simples: é o lado leve, inconseqüente, da vida de um homem, é uma gíria.

Seus olhos brilham, gosta da novidade.

– Essa é boa, gostei, ouviu? Lado <<bôlha>>.

O que impressiona em Anísio, de saída, é a sua simplicidade. Levado por um bom bate-papo dá-nos a impressão de poder abordar qualquer assunto com franqueza e honestidade.

Uma rápida olhadela em suas estantes e percebemos a variedade de sua cultura. Confessa a grande influência da literatura francesa em sua formação. E’ fã de Gide e Proust. Para a literatura inglêsa acordou só depois dos 25, vindo a traduzir Wells, Adler, e Dewey, que considera seu mestre em democracia e crença no homem.

Tem 4 filhos e o ambiente que o cerca é tranqüilo e amável. À clássica pergunta sôbre o <<hobby>> respondeu não ter nenhum, mas sua senhora, atenta a entrevista afirmou que ùltimamente tem se entusiasmando pelo futebol e pelo boxe, pela televisão, o que êle, risonho, procurou negar sacudindo a cabeça.

Do contacto direto com um homem, o mais superficial que seja, sempre levamos uma impressão que informação alguma poderia nos dar. Anísio lembrou-me uma frase de Malraux: <<Sei agora que um intelectual não é sòmente àquêle para o qual os livros são necessários, mas todo o homem a quem uma idéia, a mais elementar, pode engajar e orientar a vida>>.

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