DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Brasília permanecerá inerte se nela não houver escolas. Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 17 fev. 1960.
"Brasília Permanecerá Inerte se Nela não Houver Escolas"
Enquanto se constrói Brasília, a NOVACAP procura atender à educação presente e futura da criança, selecionando professôres em diversos centros do país e organizando um plano de emergência educacional que está sendo executado. considerando-se a função de alta relevância do educador, principalmente os professôres primários, verdadeiros lideres da sociedade, na sua obra de moldar e formar o espírito do adolescente, preparando-se para a vida, foi adotado um regime de vigorosa seleção dos professôres (geralmente 40% dos que se apresentam não logram classificação). Os professôres devem apresentar um diploma de escola normal oficial ou de educandário credenciado junto ao Ministério da Educação, comprovante de prática adquirida em classe, idoneidade moral, e, além disso, submeter-se a um estágio de 10 dias, assistidos e julgados por assessôres da NOVACAP, técnicos de Educação, e pelos professôres Paulo de Almeida Campos, representante do prof. Anísio Teixeira do INEP, e Nair Durão, da Prefeitura do Distrito Federal.
PLANEJAMENTO DO SISTEMA ESCOLAR
Coube ao prof. Anísio Teixeira, por solicitação do dr. Ernesto Silva, diretor da NOVACAP, elaborar, em outubro de 1957, o plano do sistema escolar público de Brasília, que, no tocante à educação elementar, está, assim estruturado: 1) Jardim de Infância, destinado à educação de crianças das idades de 4, 5, e 6 anos; 2) Escolas-classe, para a educação intelectual sistemática de menores nas idades de 7 a 12 anos, e curso completo de seis anos ou séries escolares; 3) Escolas-parque, destinadas a completar a tarefa das Escolas-classe, mediante desenvolvimento artístico, físico e recreativo da criança e sua iniciação no trabalho, por uma rêde de instituições ligadas entre si, dentro da mesma área, assim constituída: biblioteca infantil e museu, pavilhão para atividades de recreação, um conjunto para atividades sociais (música, dança, teatro, clubes, exposições), dependências para refeitório e administração.
Como a futura capital é constituída de quadras e como cada quadra terá população variável de 2.500 a 3.000 habitantes foi calculada a população em idade escolar para os níveis elementar e médio, ficando estabelecido o seguinte: para cada quadra, 1 Jardim de Infância, com 4 salas para em dois turnos de funcionamento, atender a 160 crianças (8 turmas de 20 crianças); 1 Escola-classe, com 8 salas para, em duas turmas, atender a 480 meninos (16 turmas de 30 alunos). Para cada grupo de 4 quadras, 1 Escola-parque, destinada a atender, em dois turnos, cêrca de dois mil alunos de 4 escolas-classe, em atividades de iniciação ao trabalho (para meninos de 10 a 14 anos), além da participação dirigida dos alunos, de 7 a 14 anos, em atividades artística, social e de recreação (música, teatro, pintura, exposições, grêmios, educação física).
Os alunos frequentarão, diàriamente a escola-parque em regime de revezamento com o horário das escolas-classe, isto é 4 horas para educação intelectual e 4 outras nas atividades da escola-parque, com intervalo para almôço.
O ENSINO DE GRAU MÉDIO
A educação média compreende diversas oportunidades educacionais oferecidas a jovens de 11 a 18 anos, em Centros de Educação Média, na proporção de um para cada conjunto populacional de 45 mil habitantes, e com capacidade para abrigar 2.700 alunos.
Cada centro de educação média terá a seguinte disposição: 1) Escola média compreensiva, incluindo: cursos acadêmicos, cursos técnicos, cursos científicos; 2) Centro de Educação Física (quadra para volibol, basquete, piscina, campo de futebol, etc.); 3) Centro Cultural (teatro, exposições, clubes); 4) Biblioteca e museu; 5) Administração e 6) Restaurante.
CENTRO DE EDUCAÇÃO MÉDIA
A educação escolar da juventude realizar-se-á de preferência, em centros educacionais, onde se reunirão alunos de ambos os sexos e dos vários cursos, quer de formação geral, quer de preparação profissional. Cada Centro será uma unidade administrativa e pedagógica, subordinada a uma direção geral única.
EDUCAÇÃO EM BRASÍLIA
Falando à reportagem do "Diário de Notícias", "declarou o dr. Ernesto Silva, diretor da NOVACAP: "a mudança não se resume em fundar uma cidade no interior e defini-la como capital, em dar-lhe um traçado perfeito e edifícios modernos, pontes e estradas pavimentada, em adotá-la do serviço de água, esgôto, eletricidade, telefone, apartamentos e casas para funcionários. Tudo isso representa uma soma enorme de trabalho, mas a cidade, permanecerá inerte, sem espírito nem vida, se nela não houver as escolas, os hospitais, os postos de higiene, as igrejas, as casas de diversões, etc. O plano educacional de Brasília nasceu da ação conjunta do Ministério de Educação e Cultura, da NOVACAP e da compreensão e espírito público de um grupo de homens idealistas e visa às seguintes diretrizes: a) distribuição equidistante das escolas no plano-piloto de Brasília, de maneira que a criança percorra o menor trajeto possível para atingir sua escola; b) oferecer possibilidade e oportunidade a tôdas as crianças e adolescentes; c) romper a rotina do sistema educacional brasileiro, elaborando novo plano que proporcione à criança e aos adolescentes uma educação integral; d) conceder ao ensino particular amplos podêres, como fixação de áreas destinadas à construção de internatos e externatos".
ENSINO PROFISSIONAL
Há, em Brasília, já em fase de instalação final, no distrito operário de Taguatinga, uma Escola de Aprendizagem Industrial, com instalações modernas, obedecendo em tudo aos melhores requisitos da técnica.
Projetada para uma capacidade de 250 alunos funcionará pelo regime de seminternato.
Estão previstos os cursos de artes gráficas, marcenaria, instalações elétricas e hidráulicas, sendo as duas últimas ministradas em cursos práticos e intensivos.
Há, presentemente, em Brasília, oito escolas particulares com o número total de 1.996 alunos, e apenas dois ginásios, o Dom Bôsco e o Brasília, o primeiro com 220 alunos e o segundo com 288.
