DIÁRIO DA TARDE. Governo diz que não pode gastar 42 milhões com educação e gasta isso numa exposição de tamanho natural que é Brasília. Diário da Tarde. Belo Horizonte, 11 maio 1959.

Governo diz que não pode gastar 42 milhões com educação e gasta isso numa exposição de tamanho natural que é Brasília: Lacerda

Afirmando que prefere uma cabeça bem formada a uma bem recheada e que Anísio Teixeira é um >> o deputado udenista proferiu, ontem, na Capital, a sua conferencia sobre o Projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Com auditório superlotado, Carlos Lacerda, bem humorado, proferiu sua conferencia sobre o Projeto de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Declarou-se integralmente contra a estatização do ensino que os "donos da educação no país" (Anísio Teixeira e o Ministério da Educação) pretendem adotar para o Brasil.

O PROJETO

Falando ontem aos universitários mineiros, líderes políticos, professores e padres, numa assembléia em que pontificava o elemento feminino, assim iniciou a sua palestra o líder udenista: <<Meu projeto foi elaborado por uma equipe formada por mim, os educadores Carlos Flexa Ribeiro e Sandra Cavalcanti e o magnífico Reitor da Universidade Católica do Distrito Federal. É um substitutivo do projeto, apresentado ao Congresso Nacional no governo Dutra, sobre <<As Diretrizes e Bases da Educação Nacional (como se houvesse uma educação municipal!)>>.

Mais adiante:

<<Preconizamos, para maior eficiencia do nosso ensino, a formação de Conselhos Regionais e de um Conselho Nacional de Educação, de composição tríplice: um terço de representantes do governo, um terço de representantes do corpo docente, eleitos pelos professores publicos e particulares e um terço de representantes dos diretores de colegios publicos e particullares>>.

ESTATIZAÇÃO NÃO

Após definir a educação como formação integral da personalidade, para que, orientada para o bem comum, promova o progresso da Patria e da humanidade, e falar sobre os fins da educação, que devem ter em mira uma clara compreensão dos direitos e deveres dos cidadãos, devem assegurar as liberdades individuais e a solidariedade internacional, manifestou-se sobre a tese da estatização do ensino:

<<A atribuição da educação não compete ao Estado, senão por suplementação e esta é uma concepção cristã e logica. Ao Estado compete oferecer os suprimentos de recursos tecnicos e financeiros adequados. Ao Ministerio da Educação caberia a tarefa de subvencionar diretamente a Escola, como atualmente, após a greve dos estudantes. Esta medida evita a comercialização do ensino>>.

EDUCAÇÃO NÃO, BRASÍLIA SIM

O que há no Brasil é o chamado "bem pensante", indivíduo desidratado, técnico, que vive da profissão de adivinhar, com os truques que aprendeu, o que não conhece.

Prosseguindo, diz:

"Ora meus amigos, dizem, baseadas em dados fictícios, as autoridades governamentais: "Seu projeto é muito dispendioso, o Estado não aguenta uma despesa de quarenta e dois milhões de cruzeiros com educação". Não aguenta despesa com educação, mas gasta quarenta e tantos milhões com uma exposição em tamanho natural, no Brasil Central" (refere-se a Brasília).

ESCOLA PARA RICO

"O substitutivo a meu projeto, que tramita pela Camara, foi feito em nome de tumultuosas concepções do homem economico. Nele a escola é para aprender a ser rico. Primeiro é preciso industrializar a sociedade, depois pode-se dar ao luxo de aprender. O Ministério da Educação quer primeiro veremos o Ricardo Jafet para depois ir à escola. O nosso Ministerio da Educação em 28 anos de vida só fez mesmo duas coisas aproveitaveis: os Cadernos de Cultura e o Patrimonio Historico".

LATIM SÓ PARA PADRE

Citando estatística do prof. Paulo Guerreiro para a UNESCO, afirma que o Brasil possui cerca de sessenta milhões de analfabetos.

"Que me perdôe o auditorio", diz, fazendo blague, e continua: "Suprimimos também, em nosso projeto, a obrigatoriedade do latim. Descobrimos que toda a vez que a Igreja reage, zanga, o Estado tenta comprá-la, dando-lhe mais latim. Por outro lado, preconizamos o reconhecimento de diplomas dados por escolas não reconhecidas pelo Ministério da Educação. Formar professores só pelas escolas reconhecidas é monopolio da educação pelo Estado. Além disso, há mais alunos precisando de professores do que professores de alunos. Dizem, por outro lado, que a universidade tem autonomia. Que autonomia é esta em que o estado regulamenta até a hora de prova para os alunos e em que para ser catedratico é preciso ter sido livre docente e, ante, instrutor e em que o instrutor é nomeado pelo catedratico? Isto é oligarquia".

CONCLUINDO

Depois de acentuar a necessidade de se equiparar o salario do professor particular ao do professor de escola publica e de restabelecer a dignidade do professor aviltada pelo nosso sistema educacional, em que as funções dos fiscais do Ministerio é só ver se o professor roubou nas notas do aluno e em que o dever do aluno é passar e o do professor passá-lo, conclui o deputado Carlos Lacerda:

"O meu amigo, professor Anísio Teixeira é o arauto da estatização do ensino brasileiro. E’ um <<defroqué>> que não concorda que o Estado subvencione o ensino confessional. E’ um fruto do pragmatismo, que quando fecundado acentuou um jesuita americano, origina o Marxismo. Eu, por mim, prefiro <<uma cabeça bem formada a uma cabeça recheada >>.

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