GAZETA DO POVO. Diretrizes do ensino. Gazeta do Povo. Curitiba, 22 mar. 1959.
DIRETRIZES DO ENSINO
O substitutivo do sr. Carlos Lacerda, ao projeto de lei de Diretrizes e Bases da Educação, contraria fundamentalmente, nossas tradições de país de ensino dúplice. Com efeito, pelo teor do projeto de líder parlamentar udenista, deve ser extinto o ensino oficial no Brasil, dando margem a que o particular prepare com todos os defeitos da atualidade e, também, com os aspectos positivos que apresenta.
Acha o deputado federal da UDN que a estabilização educacional tem sido responsável pelos erros acumulados e deficiências observadas no currículo escolar, donde seu substitutivo, nascido com o propósito de dar oportunidade a que se desenvolva, apenas, o ensino particular, em nosso país. Como é facilmente verificável, essa idéia encontra adversários intransigentes, dentre os quais alguns dos mais ilustres educadores brasileiros, como Anísio Teixeira e Darci Ribeiro, dentre outros. Segundo podemos depreender do substitutivo, não resolveria êle os problemas delicados que atormentam a coletividade nacional, no setor educacional. Primeiramente, porque acreditamos que ainda repousa, no ensino oficial, o que há de excelente, no Brasil, no setor educacional. Os defeitos gravíssimos são frutos da comercialização do ensino particular, em muitos colégios. Aliás, culpa também ao govêrno pela precariedade na fiscalização desses estabelecimentos, deixados ao abandono e frequentemente entregues a homens preocupados com a ampliação da rêde de ginásios e colégios feitos para dar lucros. Mas, não será com o fechamento dos educandários oficiais que se porá um dique à crise do ensino. Antes pelo contrário, o que precisa ser aprovado, sem mais tardança, é o projeto de Diretrizes e Bases da Educação, para que os educadores brasileiros, liberados das influências da lei Capanema, se sintam amparados por um diploma legal, na missão de educar.
O que fará o substitutivo, caso seja aprovado, será permitir a monopolização do ensino por estabelecimentos dirigidos por grupos interessados exclusivamente em ganhos fáceis. Veja-se, agora, em exemplos de nossos dias, a luta que travaram os estudantes de todo o país, pela redução das anuidades escolares, aumentadas, imoderadamente, pelos proprietários de colégios. Veja-se, ainda, a greve de professores, terminada ontem, feita com o sentido de melhorar os salários de mestres de estabelecimentos particulares. Nesses desajustes, o ensino privado já mostrou que sozinho não pode ficar, na legislação educacional. E quando são homens da estirpe dos professores Anísio Teixeira, Darci Ribeiro. Os que se manifestam contra o substitutivo Lacerda, devem precaver-se os legisladores, pois é o que de melhor possue nossa pátria, como cultores do ensino, que se rebelam, mostrando os perigos para as gerações de jovens, caso sejam aprovadas as inspirações reformistas de Carlos Lacerda, homem dominado por influência das paixões partidárias e que, apesar do seu talento, não tem tempo e sossêgo para estudos de importância e fundamentais para nossa evolução nacional.
