O ESTADO DE SÃO PAULO. Ministério. O Estado de São Paulo. São Paulo, 31 mar.1961.

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Apesar dos desmentidos reiterados do Palácio do Planalto, os parlamentares que estão chegando ao Rio nos ultimos dois dias, inclusive udenistas dos mais vinculados ao Governo, confirmam que o presidente da Republica admite uma reforma parcial do Ministerio, condicionada, entretanto, por ele, á verificação da possibilidade de uma reformulação política de todo o quadro dos comandos governamentais.

Um dos deputados mais credenciados da bancada do PSD de Pernambuco, amigo pessoal do sr. Romero Costa, afirma que leu a carta dirigida pelo ministro da Agricultura ao sr. Janio Quadros e que o presidente da Republica, diante dos seus termos, não poderia dar outra resposta senão conceder ao destinatario a demissão pedida. Nessa carta o sr. Romero Costa reage contra o metodo dos memorandos e "bilhetinhos", de tal modo que, segundo o mesmo parlamentar, "deixa bastante mal todos os demais membros do Governo que aceitam o sistema preferencial do presidente da Republica e concordam com a expedição direta de ordens presidenciais aos seus subordinados".

O ministro da Agricultura terá dito "algumas verdades" na carta com a afirmação ríspida de que o sr. Janio Quadros "se gosta de dizê-las há de gostar também de ouvi-las". A substituição do sr. Romero Costa era esperada pela bancada de Pernambuco no fim da semana passada ou nos primeiros dias desta. O retardamento da decisão do presidente da Republica fortaleceu a impressão de que ele deseja aproveitar a oportunidade para remodelar ao menos uma parte do Ministerio, substituíndo também o ministro da Educação e da Saude. O sr. Janio Quadros estaria apenas hesitando quanto ao momento mais próprio para fazer essas substituições e dar á opinião publica uma impressão de crise no Governo. A dificuldade de escolher substitutos que não tenham, por sua vez, que ser substituidos daqui a pouco tempo estariam contribuindo para as hesitações presidenciais. Amigos do Prof. Anísio Teixeira asseguram que ele tem sido "quase assediado" para aceitar a pasta da Educação, mas vem apresentando argumentos ponderaveis para recusar o convite.

Provocada talvez pela noticia de um incidente entre o sr. João Agripino e o presidente da Republica em Florianopolis, volta a circular entre os petebistas a informação de que o sr. Janio Quadros chegou a sondar o sr. Sergio Magalhães sobre a possibilidade de aceitar a pasta de Minas e Energia ou a de Industria e Comercio.

De qualquer modo, a elaboração do projeto da lei antitruste e de outros destinados a complementar a reforma cambial revelou falta de unidade no pensamento do Ministerio, e principalmente falta de correspondencia entre a opinião de alguns dos seus membros principais com as intenções do presidente da Republica. Este fato bastaria, segundo as mesmas fontes que estamos citando, para levar o sr. Janio Quadros a tentar uma "reformulação politica" do Governo ou a substituição dos ministros que não se afinam com o seu pensamento e com os seus propositos.

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