O ESTADO DE SÃO PAULO. Inaugurou-se o I Seminário para Treinamento de Pessoal em Pesquisas Educacionais. O Estado de São Paulo. São Paulo, 13 mar. 1962.

Inaugurou-se o I Seminário para Treinamento de Pessoal em Pesquisas Educacionais

Inaugurou-se, ontem de manhã, na Cidade Universitária, o I Seminário para Treinamento de Pessoal em Pesquisas Educacionais, promovido pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e pela Organização das Nações Unidas. O curso será realizado no Centro Regional de Pesquisas Educacionais e durará até o mês de dezembro.

O seminário tem por objetivo treinar pessoal para cargos de pesquisadores no setor da educação, particularmente em planejamento de administração escolar, relações da escola com a comunidade, estudo de crianças e testes e medidas.

Professores brasileiros e estrangeiros constituirão o corpo docente do seminario, que será dirigido pelo professor de Educação da Universidade da California do Sul, dr. Robert L. Brackenbury, e pelo livre docente de Administração Escolar e Educação Comparada, na Universidade de S. Paulo, prof. Carlos Corrêa Mascaro.

SESSÃO INAUGURAL

A’ sessão inaugural do seminario, além dos alunos e professores, estiveram presentes o professor Anísio Teixeira, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, o prof. Julio Mario Stamato, representante do reitor da USP, o dr. René Gachot, representante adjunto da Junta de Assistencia Tecnica da ONU, o prof. Mario Guimarães Ferri, diretor da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras, da USP, o prof. Laerte Ramos de Carvalho, diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais, o representante do secretario da Educação, o representante do diretor do Departamento de Educação e os diretores do seminario.

Os trabalhos foram abertos pelo diretor do CRPE, o qual, após congratular-se com os bolsistas que seguirão o seminario, anunciou que o orgão realizará neste ano varios trabalhos pioneiros no Brasil. Qualificou o seminario que se iniciava como a primeira experiencia de convivencia universitaria nos quadros da Universidade Brasileira.

Em nome do diretor-geral da UNESCO, falou o dr. René Gachot, da ONU, ressaltando a importancia desse seminario na intensa fase de desenvolvimento economico-social que atravessa o Brasil, para a atualização dos metodos educativos. O seminario – afirmou – inaugura-se na hora mais oportuna e o CRPE está de parabéns por sua realização.

A PESQUISA EDUCACIONAL

O diretor do INEP, prof. Anísio Teixeira, tratou do papel da pesquisa educacional no mundo contemporaneo. Afirmou que se está diante de uma situação inteiramente nova, após a segunda guerra mundial, com a explosão demografica, a explosão do conhecimento humano e a explosão do conhecimento humano e a explosão da riqueza. Mesmo nos países subdesenvolvidos surgiram condições radicalmente diversas de há dez anos. No ensino, por exemplo, a autoridade soberana do professor diminuiu consideravelmente, dado o volume de conhecimentos que o aluno recebe fora da sala de aula, e numerosos fatores como esse fazem necessaria a pesquisa educacional, com o objetivo de enquadrar o ensino no contexto da civilização tecnológica.

O prof. Anísio Teixeira disse depois que, por outro lado, os recursos postos à disposição dessa pesquisa ainda são irrisórios face às necessidades. As despesas em pesquisa militar – exemplificou – consomem cerca de cinco por cento do orçamento consignado á defesa, mas as somas destinadas á pesquisa educacional, na Inglaterra, não passam de 0,01 por cento do total gasto no ensino.

O seminario que se inicia – prosseguiu – deve servir para criar um espírito de pesquisa, uma atitude de trabalho mais racional, mais sistematica e mais contínua. O Brasil deve ainda cumprir a tarefa que os Estados Unidos já fizeram no século XIX – a disseminação do ensino primario obrigatorio – e a do seculo XX, que é elevar á mesma categoria o ensino secundario.

Alem de adaptar o homem á civilização tecnologica do nosso tempo – disse depois o diretor do INEP – educação no Brasil deve ter um carater que impeça a formação de um novo tipo de parasita social – o educado.

Por outro lado, deve servir para quebrar o espirito de resistencia ás mudanças que ainda vive no Brasil, fruto do proprio desenvolvimento histórico do País. As elites – assinalou – ainda não têm consciencia dos perigos que as ameaçam e de que precisam se sacrificar para sobreviver e para que o País sobreviva.

| Articles from newspapers and magazines | Interviews |